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Patrulha de Virtude e Moralismo de Sofá

Publicado por Luiz Leal | 22 de Agosto de 2025 | 15:00h

Sempre que alguém aparece usando o próprio dinheiro para criar algo bonito, investindo em um hobby ou realizando um projeto pessoal, não demora muito pra surgir nos comentários um batalhão de fiscais da virtude. “Ah, mas com esse dinheiro dava pra ajudar crianças carentes.” “Por que não doou em vez de gastar com isso?”
Pois bem. Vamos conversar sobre isso.

O discurso é sempre o mesmo: tentar transformar qualquer conquista ou ato criativo em dívida moral com o mundo.

Amoralidade terceirizada.
Eu cresci na periferia. Fui criança carente. Sei exatamente o que é passar necessidade, ver o dinheiro faltar e o medo bater. E sei também o que é se mover, se virar, dar um jeito sem ficar esperando que alguém viesse resolver minha vida. Hoje, depois de muito suor e lágrimas, conquistei meus bens e minha independência. Não foi sorte, não foi herança, não foi esmola. Foi trabalho duro, persistência e estratégia. E, sim, eu ajudo. Faço doações regulares para instituições sérias. Participo como voluntário sempre que posso. Só que faço isso em off, porque caridade com câmera ligada não é caridade, é marketing. É holofote. É vaidade travestida de bondade.
Mas parece que isso não basta pra patrulha da virtude. O raciocínio deles é mais ou menos assim: se você tem algo, deveria estar usando esse algo pra salvar o mundo. Curiosamente, essas mesmas pessoas raramente abrem a própria carteira ou doam o próprio tempo. É mais fácil apontar o dedo pro esforço dos outros do que olhar pra própria omissão.

Oproblema da cobrança seletiva.
Se fôssemos seguir essa lógica, ninguém poderia comprar um carro, uma roupa, viajar, reformar a casa ou investir em arte. Afinal, sempre haverá alguém passando necessidade. E aí? Vamos todos viver no mínimo possível pra compensar a miséria alheia?
Esse é o problema: é uma cobrança seletiva, emocional, sem coerência prática. É fácil exigir que os outros façam sacrifícios que você mesmo não faz. É fácil bancar o herói da justiça social no teclado, enquanto a sua maior contribuição pro mundo é dar “like” em post de ONG.

Averdade que ninguém gosta de ouvir.
Nem toda pobreza é fruto de injustiça social pura e simples. Parte dela é, sim, resultado de escolhas ruins, falta de planejamento e, em alguns casos, da completa ausência de vontade de mudar. Existem famílias que passam fome e continuam colocando filhos no mundo, sem condições mínimas de sustentá-los, porque se acostumaram com o ciclo do assistencialismo. Isso não significa que não existam casos legítimos e urgentes de ajuda, existem, e muitos. Mas fingir que todo mundo quer realmente sair da miséria é fechar os olhos pra realidade.

Ajuda é escolha, não obrigação.
Eu não ferrei o mundo. Não coloquei essas pessoas na situação em que estão. Não sou responsável por consertar todos os problemas que eu não criei. Eu ajudo porque quero, porque acredito em fazer a minha parte, não porque um estranho na internet tentou me enfiar um boleto moral goela abaixo.
Caridade é uma decisão pessoal. Ela deve vir de consciência e vontade, não de chantagem emocional. Quando a ajuda vira obrigação, deixa de ser virtude e se torna coerção. E coerção disfarçada de bondade é só controle social barato.

Conclusão: viva e deixe viver!
Se você acha que meu dinheiro, meu tempo e meu esforço devem ser direcionados pra um propósito específico, começa dando o exemplo com o seu. Mostra seu comprovante de doações, seu histórico de voluntariado, suas horas investidas em quem precisa. Até lá, guarda seu discurso de sofá. Não tente terceirizar a culpa da miséria pra cima de quem está construindo o próprio futuro. Eu já estive lá embaixo. Eu sei o que é a pobreza e também sei que sair dela exige muito mais do que esperar que alguém te salve. Eu escolhi me mover. E continuo escolhendo a quem estender a mão. Isso é liberdade. Isso é responsabilidade. Isso é vida real.

Luiz Leal
Escritor e Life Coach Realista